As rodovias federais do Brasil tem 9.745 pontos vulneráveis à exploração sexual de crianças e adolescentes. , segundo um levantamento da Polícia Rodoviária Federal (PRF) e do Ministério da Justiça . Já o Ministério da Saúde aponta que entre 2015 e 2021 foram registrados 202.948 casos de violência sexual contra menores de idade no país (saiba mais abaixo).
Especialistas alertam para a gravidade dos números que ganham destaque neste sábado (18), Dia Nacional de Combate ao Abuso e à Exploração Sexual Infantil.
A origem do 18 de maio
Desaparecimento intrigou família da menina Araceli, no Espírito Santo — Foto: CEDOC/ A Gazeta
Polícia, suspeitos e familiares se depararam com diversas versões ao longo desses anos, e o crime permanece sem solução. O processo, depois do julgamento e absolvição dos acusados, foi arquivado pela Justiça.
Em 18 de maio de 1973 a menina Araceli Cabrera Crespo, de 8 anos, desapareceu no Espírito Santo. Mais tarde foi descoberto que a criança havia sido raptada, drogada, estuprada, morta e carbonizada no Espírito Santo.
O corpo foi deixado desfigurado e em avançado estado de decomposição próximo a uma mata, em Vitória.
Pai de Araceli reconheceu o corpo encontrado, no Espírito Santo — Foto: CEDOC/ A Gazeta
Depois de 27 anos, por meio da da Lei 9.970, de 17 de maio de 2000, a data do desaparecimento de Araceli foi escolhida para marcar o Dia Nacional de Combate ao Abuso e à Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes.
Mais de 9,7 mil pontos vulneráveis nas rodovias do Brasil
Dados da Polícia Rodoviária Federal (PRF) e do Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP), revelam que as rodovias federais têm 9.745 pontos vulneráveis à exploração sexual de crianças e adolescentes. Desses, 1.884 são classificados como de alto risco, e 640 como críticos.
A pesquisa é resultado da nona edição do Projeto Mapear de 2023, e se refere ao biênio de 2021/2022. Dos locais identificados, 58% dos pontos estão na área urbana e 42% na área rural.
Os pontos vulneráveis são identificados pelas características e não pela ocorrência da efetiva exploração. A localização não é divulgada e a informação fica em poder das polícias.
Veja as principais rodovias:
- BR 101: 1.204 pontos vulneráveis
- BR 116: 1.011 pontos vulneráveis
- BR 153: 550 pontos vulneráveis
- BR 163: 400 pontos vulneráveis
- BR 040: 338 pontos vulneráveis
- BR 232: 330 pontos vulneráveis
Veja a distribuição por regiões
- Nordeste: 177 pontos críticos
- Sudeste: 166 pontos críticos
- Centro-Oeste: 119 pontos críticos
- Sul: 103 pontos críticos
- Norte: 75 pontos críticos
De acordo com Eva Dengler, superintendente de Programas e Relações Empresariais da Childhood Brasil, instituição que contribui com o Mapear, o objetivo da pesquisa é prevenir a exploração sexual.
“Se eu tenho como mapear os lugares pelas características, a polícia tem a possibilidade de fazer operações de repressão e blitz noturna. A ideia é chegar nesses lugares mais vezes ao ano, verificando se há criança naquele lugar e tirar aquelas crianças de lá. Atuar de maneira preventiva”, diz Eva.
Dos 9.745 locais, 42 ficam no Distrito Federal. No biênio 2019-2020, o DF possuía praticamente metade dos pontos mapeados como críticos (46,1%). Já no biênio 2021-2022, a porcentagem caiu para 14,2%.
Casos de abuso sexual
Denúncias de abuso sexual infantil na internet aumentaram quase 80% em 2023
De acordo com o boletim do Ministério da Saúde de 2023, o Brasil teve 202.948 casos de violência sexual contra crianças e adolescentes entre 2015 a 2021. Segundo o documento:
- 83.571 (41,2%) dos casos de violência foram contra crianças (0 a 9 anos)
- 119.377 (58,8%) praticados contra adolescentes (10 a 19 anos)
- 3.386 casos envolveram bebês com até um ano de idade
Na Internet, as denúncias de abuso sexual infantil aumentaram 80% em 2023. A superintendente da Childhood Brasil Eva Dengler orienta que a educação sobre o uso da rede deve ter o mesmo princípio ensinando para as crianças na “vida real”: Não fale com estranhos.
Para a Childhood Brasil, a regulamentação do uso da internet por menores de idade é fundamental.
‘Tem muita gente que não acredita no que a criança conta’
Crianças dentro de sala de aula, no DF — Foto: TV Globo/Reprodução
Eva Dengler diz que é essencial ficar atento ao comportamento das crianças e jovens, que pode relevar uma possível situação de abuso ou violência.
“Se a criança é comunicativa, mas se fecha, não quer conversar, se fecha no quarto. Se ela acorda chorando ou apresenta transtornos alimentares, como bulimia ou para de comer, são mudanças de comportamento preocupantes”, diz Eva.
De acordo com a superintendente da Childhood Brasil, um outro problema é a forma como muitos adultos “lidam” com os relatos de crianças. “Tem muita gente que não acredita no que a criança conta”.
Eva Dengler alerta que o tema também deve ser discutido nas escolas, respeitando a faixa etária das crianças. No entanto, muitos pais, e até as próprias escolas, têm receio de abordar o assunto.
Ela explica que a educação sexual nas escolas não se trata de “ensinar a fazer sexo”. “É uma coisa completamente equivocada”, diz Eva ao defender que educação sexual serve para proteção contra abusos e violências.
“Os adolescentes enxergam a escola como segundo lugar de confiança. É um lugar em que os jovens devem se sentir seguros para falar sobre isso. Os professores também precisam estar preparados”, diz a superintendente da Childhood Brasil.
Como denunciar
Para denunciar casos de exploração sexual de crianças e adolescentes , basta ligar no número 100, canal gratuito do Ministério dos Direitos Humanos. A denúncia pode ser feita de forma anônima.
O serviço funciona 24 horas por dia, incluindo sábados, domingos e feriados. As ligações podem ser feitas de todo o Brasil e de qualquer terminal de telefônico fixo ou móvel.
- Disque 191: Polícia Rodoviária Federal
- Aplicativo Direitos Humanos BR
- Disque 190: Polícia Militar
- Disque 197: Polícia Civil
- Disque 194: Polícia Federal
Eva Dengler destaca que os adultos também devem se preocupar com as crianças que estão em situação de rua.
“No caso da exploração sexual, crianças e adolescentes em situação de rua, na estrada, andando por aí abordando pessoas, restaurantes, carros parados, são situações de enorme vulnerabilidade. Nós como adultos temos que denunciar isso. Se ver flagrante, chama diretamente a polícia, anota placa do carro e faz a denúncia”, diz Eva Dengler.