No ano passado, 933 médicos da rede pública de saúde apresentaram atestados de afastamento devido a problemas de saúde mental
Nos últimos meses, o Metrópoles noticiou casos de pessoas que encararam demora no atendimento da rede pública de saúde do Distrito Federal. Grávidas e crianças chegaram a morrer devido à demora ou falta de assistência — muitas vezes, causada pelo baixo número de médicos. Além do déficit dos profissionais da medicina, a Secretaria de Saúde ainda precisa enfrentar o adoecimento da categoria. Em 2023, uma média de 2,5 médicos pediram afastamento do trabalho por dia devido à distúrbios mentais.
De acordo com o documento, dos 933 atestados entregues por profissionais da área no ano passado, 26,26% eram médicos da família — que atuam nas Unidades Básicas de Saúde (UBSs) e são responsáveis pelo acompanhamento mais próximo dos moradores de suas respectivas regiões.
Os principais motivos das licenças de médicos da rede pública foram, respectivamente: transtornos de ansiedade; reações ao “stress” grave e transtornos de adaptação; e episódios depressivos.
Em seguida, aparece a região central, responsável pelo atendimento de Asa Sul, Asa Norte, Cruzeiro, Lago Norte, Varjão e Vila Planalto, com 12,9% das licenças.
Casos recentes
Em abril, o Hospital Regional de Ceilândia (HRC) estava com superlotação de 175% e deixou de atender crianças doentes, que buscavam atendimento na unidade de saúde. Além da demanda excessiva de famílias em busca de socorro, segundo consulta feita na época à Ouvidoria da Secretaria de Saúde, naquele a unidade havia apenas um médico no plantão na pediatria.
Já Anna Julia Galvão morreu, aos 8 anos, em 17 de abril, no Hospital Materno-Infantil de Brasília (HMIB), após passar por outras unidades hospitalares da capital federal.
Em 14 de abril, Jasminy Cristina de Paula Santos, de um mês de vida, morreu na Unidade de Pronto-Atendimento (UPA) do Recanto das Emas. Segundo a família, houve negligência e demora no atendimento. A bebê recebeu diagnóstico preliminar de bronquiolite, mas não houve solicitação de exames. A criança foi mantida no oxigênio, soro e salbutamol. A família perguntou se era necessário investigar mais o quadro de Jasminy, mas os profissionais da UPA, segundo a família, se limitaram a dizer que a menina seguiria em observação.
Procurada, a Secretaria de Saúde (SES-DF) informou que monitora os índices de absenteísmo. “A média é de 10,53%, demonstrando um acompanhamento contínuo desses dados”, diz a pasta, em nota.
“O número de licenças médicas está relacionado ao grande contingente de servidores da secretaria, que totaliza cerca de 35 mil profissionais. A principal razão para os afastamentos são os atestados de comparecimento e as licenças médicas, sendo esta última responsável por aproximadamente 25% da taxa de absenteísmo”, completa.
A SES-DF admite que há desafios na administração, mas afirma que “atua de maneira proativa para melhorar a qualidade de vida dos servidores”.