Segundo o IBGE a taxa de desocupação entre trabalhadores com ensino superior completo atingiu 3,5% no segundo trimestre
A falta de mão de obra qualificada no Brasil tem sido um desafio crescente para as empresas. Dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) do IBGE apontam que a taxa de desocupação entre trabalhadores com ensino superior completo, mais de 25 anos e experiência profissional, atingiu 3,5% no segundo trimestre de 2024, cerca de metade da taxa de desemprego geral, que ficou em 6,9%. O levantamento, que reflete um mercado de pleno emprego para profissionais qualificados, evidencia a dificuldade das companhias em encontrar candidatos para posições estratégicas, destaca o jornal O Estado de S. Paulo.
De acordo com Amanda Adami, gerente de recrutamento da consultoria Robert Half, “estamos em pleno emprego no recorte de profissionais qualificados”, uma situação que intensifica a disputa por talentos. Desde 2023, a taxa de desemprego desses profissionais tem permanecido abaixo de 4%, atingindo o menor índice de 3,3% no terceiro trimestre daquele ano.
Profissionais de tecnologia, como engenheiros de software, cientistas de dados e especialistas em cibersegurança, estão entre os mais disputados, segundo o economista Bruno Imaizumi, da LCA Consultores. Outras áreas também seguem aquecidas, como saúde, com médicos e enfermeiros, e finanças, incluindo gestão de projetos relacionados a questões ambientais, sociais e de governança (ESG). A alta demanda reflete não apenas a importância dessas profissões no mercado, mas também o impacto da baixa porcentagem de brasileiros com ensino superior — apenas 19%, bem abaixo da média de 40% dos países da OCDE.
Lucas Oggiam, diretor-executivo da Michael Page, destaca que a competição no mercado tem levado as empresas a inovar na atração e retenção de talentos. Embora o salário continue sendo o principal atrativo, sua influência está diminuindo devido ao aumento geral nos patamares salariais. “Com os salários no topo, as empresas precisam buscar outras formas de se destacar”, explica.
Entre as estratégias utilizadas pelas empresas, segundo a reportagem,a oferta de flexibilidade no trabalho tem sido um diferencial. Amanda Adami observa que o modelo remoto ou híbrido, como no caso do programador França, que rejeita propostas constantes de empresas estrangeiras, tem se mostrado eficaz para atrair talentos sem a necessidade de grandes reajustes salariais. Além disso, benefícios personalizados, como assistência médica diferenciada para profissionais seniores ou créditos para academias para os mais jovens, são cada vez mais valorizados.
O mercado de trabalho brasileiro, no entanto, apresenta variações regionais significativas. Enquanto as regiões Sul (2,3%) e Centro-Oeste (3,4%) registram as menores taxas de desemprego entre qualificados, as regiões Norte (3,9%), Nordeste (4,5%) e Sudeste (3,6%) estão acima da média nacional de 3,5%. Essa disparidade reflete diferenças econômicas e de desenvolvimento entre as regiões.
O cenário geral do desemprego no Brasil também tem mostrado sinais positivos. A taxa geral de desocupação recuou para 6,4% no trimestre encerrado em setembro, menor nível da série histórica iniciada em 2012.