Iniciativa da Secretaria de Justiça e Cidadania orienta sobre as formas de combater a prática de racismo estrutural e institucional
Cerca de 40 funcionários terceirizados da área de Segurança e policiais legislativos do Senado Federal participaram nesta terça-feira (26) do curso Letramento Racial, um projeto da Secretaria de Justiça e Cidadania (Sejus-DF) que leva aos órgãos públicos informações sobre a origem e práticas de racismo ainda presentes na sociedade. Durante o curso, foi lançada, em parceria com o Senado, uma cartilha orientadora sobre equidade racial. O Letramento Racial no Senado prevê a capacitação de 400 funcionários, terceirizados e da carreira.
Desenvolvido pela subsecretaria de Direitos Humanos e Igualdade Racial (Subdhir), da Sejus, o Letramento Racial faz parte de uma extensa agenda de capacitação para que as pessoas entendam o que é, como combater e como se manifesta o racismo estrutural e institucional no País. Juvenal Araújo Júnior, titular da Subdhir, participou da abertura do evento.
A aula foi ministrada por Marina Morenna, professora e especialista em políticas públicas em gênero e raça. Em sua apresentação, abordou temas como as leis segregacionistas que proibiam aos negros o acesso à educação e o acesso a terras, adotadas em meados de 1830. Sessenta anos depois, outra medida foi instituída, a lei dos Vadios e Capoeiras, que considerava crime a prática da capoeira e do candomblé.
Marina citou essas leis para mostrar como a população negra foi literalmente excluída da sociedade e essa exclusão se verifica de maneira sutil nos dias atuais. “Por isso temos de lutar pela redução das desigualdades raciais, todas elas. Tivemos leis positivas como a das cotas, que completará dez anos, mas precisamos de mais ações afirmativas, inclusivas e reparadoras”, defendeu.
A professora da rede pública do Distrito Federal considera necessário que haja mais oportunidades de formação de professores pelas universidades, porque a maioria dos docentes nas escolas públicas e privadas é branca. Segundo ela, o próprio parlamento é mal representado pela população negra, e isso demonstra como é difícil para o negro conseguir seus espaços.
Vítimas de racismo
Antonia Ladyjane é funcionária terceirizada e faz parte do Comitê de Gênero e Raça do Senado Federal. Indígena e maranhense, Antonia disse que já sofreu toda sorte de racismo e xenofobia, seja por sua origem, seja pela cor de sua pele. “Como educadora social aprendi e levo para os jovens a mensagem de que eles devem entender que são lindos com sua cor de pele, com seus cabelos. Já sofri muito por esse tipo de racismo. Hoje não mais”, disse. Ela fez questão de contar, também, que já participou do programa Direito Delas, da Sejus, por ter sido vítima de violência. Segundo ela, o programa lhe deu segurança para nunca mais temer seu opressor e hoje tem orgulho de acolher muitas mulheres que ainda são vítimas de violência.
“São relatos como esse que nos estimulam ainda mais desenvolver ações que garantam segurança às mulheres. E hoje, com o curso de Letramento Racial no Senado, plantamos uma semente de levar a mensagem de que juntos somos capazes de combater o racismo. A cartilha lançada em parceria da Sejus com o Senado é o começo da construção de um novo momento”, comemorou Marcela Passamani, secretária de Justiça e Cidadania.