Fake news do Estadão abre a era do ‘mentiu, levou’, mas mostra que o fascismo ainda está muito vivo na mídia brasileira

Lula, Javier Milei e Simone Tebet (Foto: Washington Costa/MPO | REUTERS/Mariana Nedelcu)

A pergunta que deve ser feita é: por que o jornal da burguesia brasileira publicou uma mentira para ajudar o palhaço fascista da Argentina?

Leonardo Attuch

O jornal Estado de S. Paulo viveu, no dia de ontem, um dos piores dias de sua história de 148 anos. Publicou uma mentira escancarada, sobre uma suposta interferência do presidente Luiz Inácio Lula da Silva nas eleições argentinas, por meio de um empréstimo da CAF, o banco de desenvolvimento da América Latina, e foi rapidamente desmascarado.A reportagem, assinada pela jornalista Vera Rosa, espalhava desinformação, ao dizer que Lula teria telefonado para a ministra Simone Tebet para pressioná-la a aprovar um financiamento de US$ 1 bilhão para a Argentina, de modo a favorecer a candidatura do ministro da economia Sérgio Massa e prejudicar o candidato abertamente fascista Javier Milei. Em seguida, Andreza Matais, editora-executiva do jornal, comemorava o fato de que a mentira repercutia na Argentina – uma mentira que, por sua vez, se espalhava rapidamente pelo esgoto da extrema-direita brasileira.Como a fake news saltava aos olhos, uma vez que as decisões do CAF são colegiadas e aprovadas por mais de vinte países, ela foi rapidamente denunciada pela mídia independente e também nas redes sociais. Um dos primeiros veículos a fazê-lo foi o Brasil 247 neste link e também a TV 247, no Bom Dia 247, do dia de ontem.

Ao longo do dia, o caso foi ganhando corpo nas redes sociais e o governo Lula adotou uma novidade no relacionamento com a imprensa mentirosa e frequentemente golpista. Abriu a era do ‘mentiu, levou’. Por meio do assessor, a reportagem foi desmentida por um canal oficial do governo federal, quando já havia sido desmentida também pela própria Simone Tebet, citada no texto de Vera Rosa.

Em seguida, num ato de intimidação, a editora-executiva do jornal, Andreza Matais, partiu para a baixaria, ao divulgar o salário de George Marques, de cerca de R$ 10 mil mensais, como assessor da Secretaria de Comunicação. Um salário, diga-se de passagem, que é plenamente compatível com as suas funções e pode ser consultado publicamente. Tal iniciativa provocou revolta entre jornalistas e, aparentemente, Andreza Matais fechou sua conta no X (antigo Twitter).

O episódio lamentável na história do jornal paulista revela duas coisas imediatas. A primeira, que a imprensa corporativa não consegue mais emplacar fake news contra Lula como antigamente, uma vez que há um ecossistema muito mais diverso e plural na comunicação brasileira. A segunda, que o governo federal deixou de lado a postura passiva do passado e passou a reagir imediatamente, com fatos, às mentiras que são disseminadas pela imprensa convencional e depois espalhadas pelos gabinetes de ódio da extrema-direita.

Mas há um terceiro aspecto não menos relevante. O que leva o jornal da tradicional burguesia brasileira a tentar interferir nas eleições argentinas, de modo a favorecer a candidatura fascista? Nunca é demais lembrar que, no Brasil, o Estadão até hoje é lembrado pelo editorial “Uma escolha muito difícil”, de 2018, em que igualou o professor universitário Fernando Haddad, atual ministro da Fazenda, ao neofascista Jair Bolsonaro. Isso indica que o fascismo, que foi a verdadeira escolha do Estadão cinco anos atrás, continua sendo visto como uma opção válida pelo jornal quatrocentão. Por que razão? Será que interessa ao imperialismo o estabelecimento de um enclave fascista na América do Sul para sabotar a integração regional e o avanço dos BRICS? O Estadão deve respostas à sociedade brasileira e também aos argentinos, que tentou manipular com uma mentira grotesca.

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