Vídeo de universitárias de SP debochando de colega por ter ’40 anos’ viralizou e gerou indignação. Mas estudantes nessa idade estão cada vez mais presentes nas universidades, mostra censo do Ministério da Educação.
Por Brenda Ortiz, g1 DF
Um vídeo mostrando três estudantes de uma universidade particular de Bauru (SP) debochando de uma mulher que também estuda na instituição, pelo fato de ela ter “40 anos”, viralizou no último sábado (11), (veja vídeo abaixo). No entanto, o último Censo da Educação Superior, do Ministério da Educação (MEC), mostra que em 2021 599.977 pessoas nessa faixa etária foram matriculadas.
O número representa um aumento de 171,1% nos últimos dez anos, entre 2012 e 2021. Somente no Distrito Federal, em 2021, 28.578 pessoas com 40 anos ou mais se matricularam em instituições de ensino superior.
Com a maior expectativa e qualidade de vida no mundo todo, a idade já não se mostra mais como um empecilho para a realização de sonhos. A bióloga e estudante Aline Pomnitz, de 44 anos, voltou a estudar em 2021 e diz: “Me dedico com paixão”.
“Eu sempre quis ser veterinária. Mas quando era mais nova, não passei no vestibular e não consegui. Então, estudei biologia e depois acabei trabalhando no serviço público”, conta a moradora de Brasília.
Aline conta que ficou muito chateada quando viu o vídeo das estudantes de Bauru. “O jovem parece que tem uma resistência com o mais velho. Eles ficam meio enciumados, mas acho que até sem entender”, diz ela.
“Na verdade, nesse ambiente universitário, essa troca pode ser muito boa. De um jovem poder conversar com uma pessoa mais velha que não é o pai ou a mãe e, para os mais velhos, é possível se revigorar com essa energia do jovem”, diz a estudante.
Etarismo
Quem nunca ouviu a frase “você não tem mais idade para isso”? De acordo com a psicoterapeuta Helena Abdalla, esse tipo de frase pode ser classificada como etarismo, “que consiste no preconceito, na intolerância, na discriminação contra pessoas com idade avançada. Ou seja, um preconceito que se refere a essas pessoas como se elas fossem incapazes e incompetentes, frágeis, inadequadas”.
“Nós sabemos que a idade não retira nada de nós. Ela não exclui a nossa capacidade de aprender, de sonhar, nossa capacidade de viver a vida de maneira que nos agrade. Como se as pessoas de idade avançada, fossem inadequadas para realizar sonhos, que são destinados e designados, pela própria construção da sociedade, para grupos de jovens adultos, por exemplo”, diz a psicoterapeuta.
Para Helena, as pessoas mais velhas tem a capacidade de sonhar e de olhar para a vida de outra forma. “Muito diferente dos jovens adultos, que por causa da idade, e do nosso meio cultural geracional, têm uma dificuldade ainda de entender o que eles querem para a vida, as pessoas de idade avançada não tem. Elas conseguem, de forma mais refinada, olhar pra dentro e despertar sonhos e caminhos que ainda estão vivos e que elas querem, de uma forma muito mais competente, realizar”, aponta a especialista.