Ausência de Estado, corrupção e desigualdade social abrem caminho para redes criminosas
Por Giorgio Trucchi (*) – O Equador vive uma das maiores crises de segurança de sua história recente. O assassinato do candidato presidencial Fernando Villavicencio, em agosto do ano passado, marcou o início de uma onda de violência, instabilidade e insegurança na qual o país vem afundando rapidamente.
A explosão de homicídios no país, as repetidas rebeliões em presídios, o sequestro de policiais e a fuga de dezenas de detentos, incluindo o chefe da gangue criminosa Los Choneros, Adolfo “Fito” Macías, e até a invasão de uma emissora de televisão por homens armados, levaram o presidente Daniel Noboa a declarar a existência de um “conflito armado interno”.
A decisão tomada pelo jovem Presidente prevê um estado de exceção para todo o território nacional por 60 dias, que pode ser prorrogado, a mobilização e mais poderes para militares e polícias, e uma “declaração de guerra” contra 22 organizações criminosas, que qualifica como “terroristas e atores não estatais beligerantes”.
Uma situação que não pode ser explicada simplesmente com o transbordamento do crime organizado no país ou a mudança nas rotas do narcotráfico na América Latina que atualmente privilegiam o Equador.
Trata-se de uma crise de enormes dimensões que tem suas raízes na progressiva evaporação do Estado nos territórios, juntamente com o abandono dos setores mais despossuídos, o aumento da desigualdade social, da pobreza e do desemprego e a incontrolável corrupção pública.
As primeiras medidas econômicas adotadas por Noboa seguem a mesma lógica, com aumento do Imposto sobre Valor Agregado (IVA) de 12% para 15%, mais isenções e exonerações para grandes grupos econômicos e novas privatizações no setor público.
“A situação é muito difícil e as pessoas têm até medo de sair às ruas. Muitos deles estão saindo do país e há um aumento significativo na migração. Tudo está se tornando caótico e há muito medo”, disse a La Rel César Fernando López, presidente da Fesitrae(Federação Sindical Independente das/os Trabalhadoras/es do Equador).
“Por mais duro que seja este governo, a situação dificilmente vai mudar se toda essa corrupção não for encerrada, se a pobreza, a desigualdade, a falta de desenvolvimento e a ausência do Estado nos territórios não forem atacadas com força”, concluiu López.
(*) Giorgio Trucchi é jornalista. Publicado originalmente em espanhol por Rel-UITA (Regional Latinoamericana de la UniónInternacional de Trabajadores de laAlimentación, Agrícolas, Hoteles, Restaurantes, Tabaco y Afines – http://www.rel-uita.org/ecuador/ecuador-en-llamas/). Tradução: Rose Lima.