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Homens que marcaram encontros por app gay são atraídos para emboscadas no Sacomã, onde jovem foi morto; 9 roubos foram registrados nos últimos 5 meses

Homens que marcaram encontros por app gay são atraídos para emboscadas no Sacomã em SP — Foto: Reprodução/EPTV

Nos últimos cinco meses, ao menos 9 roubos e tentativas foram registrados em locais bem próximos ao endereço onde o jovem Leonardo Rodrigues Nunes, de 24 anos, foi morto, na região do Sacomã, Zona Sul de São Paulo. Ele foi ao local para encontrar um rapaz que conheceu no aplicativo Hornet.

Em todos os nove casos, os jovens também foram atraídos para a região após marcar encontros por meio de aplicativos de relacionamento voltados para o público gay.

g1 conversou com 8 pessoas que foram roubadas ou sofreram tentativas de assalto na região (veja relatos abaixo).

  • Eles conhecem o suposto rapaz pelo Hornet ou Grindr
  • Após conversar por dias é marcado um encontro na região do Sacomã
  • O suspeito se oferece para pagar um carro de aplicativo até o local e acompanha a localização em tempo real da vítima
  • Chegando ao local as vítimas são abordadas por dois homens em uma moto que anunciam o assalto
  • Os criminosos levam celulares e cartões
  • Uma vítima ouvida pelo g1 afirmou que os bandidos chegaram a atirar contra ela, mas conseguiu sair do local e pedir ajuda para uma moradora
  • Outra vítima contou que foi agredida pelos homens

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Leonardo foi morto na Rua Rolando. Os outros casos encontrados pela reportagem ocorreram nas ruas:

  • Rua São Damásio, 72
  • Rua Pupo Nogueira
  • Rua Amadeo Giannotti, 66
  • Rua Cosme de Souza, 269
  • Rua Rolando, 34
  • Rua Izonzo
  • Rua Japaratuba, 593

 

Os roubos foram registrados nos últimos cinco meses, sendo um em fevereiro, quatro em março, um em abril, e um em maio. Duas vítimas também sofreram tentativas de assalto em março e maio.

g1 questionou a Secretaria da Segurança Pública de São Paulo (SSP) se está sendo realizada uma investigação conjunta dos casos. Em nota, a pasta afirmou que “os casos citados pela reportagem, assim como outras ocorrências da mesma natureza registradas na região estão sob investigação no 95º Distrito Policial (Heliópolis), que instaurou um inquérito policial. A equipe da unidade trabalha para prender os suspeitos já identificados”.

A reportagem também procurou o Ministério Público de São Paulo(MP-SP) para saber se os aplicativos citados estão sendo investigados. O órgão informou que “vai verificar junto as autoridades policiais se os aplicativos estão obstruindo informações para o deslinde dos casos. Após, deliberamos sobre a atuação do GAESP, se é caso ou não de instauração de inquérito”.

‘Vi ele atirando na minha direção’

 

Morador de Santo André, João*, de 24 anos, escapou por pouco de um assalto no mesmo endereço em que Leonardo Rodrigues Nunes foi assassinado, próximo ao Sacomã. O episódio ocorreu em 15 de maio.

Durante semanas, João conversou com um rapaz com quem deu um match no aplicativo Hornet. Depois, eles migraram para o WhatsApp. “Ele se mostrou uma pessoa muito humana, mandando agenda, comentando o que ia fazer, mandava foto dele. Não me deu brecha para desconfiança”.

No dia do crime, a vítima estava na faculdade na Zona Oeste de São Paulo, quando foi convidada para ir à casa do rapaz. O criminoso pediu para ele compartilhar a localização em tempo real do Uber.

Chegando no local combinado, João não encontrou ninguém. Enquanto tentava localizar o endereço correto, dois homens em uma moto se aproximaram e o abordaram. A vítima achou que os criminosos carregavam uma arma de brinquedo, por isso reagiu ao assalto.

“Ele subiu na moto e falou: ‘vou te matar e pegar tudo’. Na hora que ele atirou, não sei o que aconteceu, acho que foi meu anjo da guarda, eu caí no chão um pouco antes dele atirar. Eu vi ele atirando na minha direção. São cenas e sons que não vão sair da minha cabeça.”

 

Então, uma moradora apareceu e começou a gritar, por isso os assaltantes fugiram sem levar nada. A mulher acolheu João em sua casa e compartilhou que outros casos similares ao dele vem acontecendo na região.

Jovem é morto após marcar encontro em aplicativo

‘Usaram minhas fotos para aplicar outros golpes’

 

Outro jovem que caiu no mesmo golpe no mês de março, teve suas fotos pessoais usadas pelos suspeitos em aplicativos de relacionamento.

Carlos* conheceu um rapaz pelo Hornet. Após semanas de conversa eles marcaram um encontro. “Marquei um encontro, quando cheguei ao local, ele me mandou mensagem dizendo que já ia descer e nada de aparecer. Nisso, me pediu fotos da rua onde eu estava, mandei e dois minutos depois apareceu dois caras em uma moto e me assaltaram”.

Segundo a vítima, os suspeitos levaram o celular, documentos e cartões dele. “Acabei pedindo ajuda para uma moradora, ela me acolheu e chamou um carro para me levar para casa. Quando cheguei em casa para cancelar minhas coisas, já vi que eles estavam usando o meu perfil no WhatsApp para marcar encontro com outras pessoas”.

Carlos afirma ainda que as imagens dele também foram usadas no Hornet e no Grindr pelos golpistas.

‘Me deram um soco na testa e bateram com a arma na minha barriga’

 

O que era para ser em encontro terminou em uma emboscada no Sacomã. Em março, Flávio* conheceu um rapaz pelo Hornet e, após dias de conversa pelo aplicativo de relacionamento e pelo WhatsApp, decidiram marcar um date.

Como aconteceu com outras vítimas ouvidas pelo g1, o suspeito se ofereceu para pagar o Uber, porém Flávio preferiu pagar pela própria corrida. “Quando eu entrei no carro, ele pediu para tirar um print do Uber para ele acompanhar a viagem. Eu mandei, e ele pediu para eu avisá-lo quando faltasse cinco minutos para chegar, para ele descer e me encontrar no portão da casa dele”.

Chegando ao destino, ninguém espera por Flávio. Foi quando dois homens em uma moto apareceram. Um deles sacou a arma e pediu para a vítima entregar tudo.

“Eu dei o meu celular. Eles ainda pegaram meu chinelo, carregador e fone. Queriam que eu desbloqueasse o meu celular e pediram a senha de tudo o que eu tinha. Eu fiquei tão nervoso no momento que eu não lembrava a senha. O celular ficou bloqueado [após muitas tentativas].”

“Durante dez minutos, eles ficaram falando que iam me matar. Engatilharam a arma, me deram um soco na testa e bateram com a arma na minha barriga. Por fim, se convenceram a levar o celular bloqueado mesmo. Me deixaram na rua e saí correndo para pedir ajuda.”

 

Após alguns minutos, uma viatura da Polícia Militar apareceu no endereço, porque alguns vizinhos ouviram o assalto e ligaram para a corporação. A vítima foi levada para o 26° Distrito Policial do Sacomã, onde o boletim de ocorrência foi registrado.

‘Agora tenho medo de conhecer pessoas novas’

 

Matheus*, de 26 anos, também foi assaltado após marcar um encontro no bairro do Sacomã, em maio. Em razão do trauma, ele já cogitou deixar o país e se mudar para os Estados Unidos.

“Estou com bloqueio em conhecer pessoas novas, porque sinto que qualquer um pode tirar minha vida a qualquer momento. Estou passando por terapia”. Ao g1, ele relatou que estava conversando com um rapaz no aplicativo Hornet, quando foi convidado para sair.

“Ele queria algo mais intimista, então me convidou para a residência dele. Durante esse papo, ele pediu meu WhatsApp e começamos a conversar por lá. Até então tudo batia, a foto de perfil, o nome. Marcamos [o encontro] e fui até o local. Durante esse tempo, ele me pediu minha live location [localização em tempo real] no WhatsApp e ia falando comigo todo momento.”

Esse comportamento fez com que a vítima se sentisse segura, já que o suposto crush parecia estar preocupado com a sua segurança. Chegando ao local, o homem disse ao Matheus que ele estava na rua errada.

“Ele me pediu para ir andando até o endereço certo, só que meu celular estava somente com 3% de bateria. Então fui o mais rápido possível. Chegando na rua informada, ela era deserta, mas tinha muitas residências. Enquanto procurava o número da casa, fui abordado por eles, dois homens em uma moto e um deles estava armado. Falaram para eu me agachar no chão. O rapaz da moto falou: ‘dá um tiro nele, vai’. Então, eu fiquei ainda mais acoado, e eles falaram para eu ficar desse jeito, enquanto isso eles subiram na moto e foram embora”.

A dupla levou o celular da vítima e alterou a senha do e-mail e do iCloud (sistema de armazenamento em nuvem da Apple), além de efetuar diversas compras em aplicativos de compras. Posteriormente, Matheus conseguiu o ressarcimento do dinheiro.

O jovem contou que usa aplicativos de relacionamentos há oito anos e nunca tinha enfrentando problemas. Para Matheus, a segurança dessas plataformas é extremamente vulnerável. “Um dia vi um perfil usando minha foto. Denunciei no Hornet e nada foi feito. Ou seja, é perigoso tanto para o usuário quanto para alguém que tem a foto usada”, alertou.

g1 não conseguiu contato com a Hornet para comentar os episódios. Pelo site da plataforma, a empresa inclui dicas de segurança para os usuários e um email pelo qual os usuários podem denunciar casos. No entanto, não possui informações sobre verificação de perfis na plataforma.

O que diz a Secretaria da Segurança Pública

 

“Os casos citados pela reportagem, assim como outras ocorrências da mesma natureza registradas na região estão sob investigação no 95º Distrito Policial (Heliópolis), que instaurou um inquérito policial. A equipe da unidade trabalha para prender os suspeitos já identificados.

Com relação à morte do jovem de 24 anos na semana passada, um inquérito está em tramitação pelo Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP). A unidade especializada está ouvindo familiares e amigos da vítima para coletar informações que auxiliem na investigação, bem como analisa as denúncias divulgadas nas redes sociais”

*Nomes foram alterados para preservar as identidades das vítimas

“Ódio é direcionado contra pretos, pobres e gays”, diz pai de jovem que foi assassinado após marcar encontro por aplicativo de relacionamento gay

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