Segundo famílias, o Colégio Militar Tiradentes, da PMDF, adotou modelo de ensino excludente. Corporação diz que oferece acolhimento
Pelo menos três estudantes neurodivergentes do Colégio Militar Tiradentes, em Brasília, foram desligados da escola entre 2023 e 2024. Segundo as famílias, isso ocorreu por causa da falta de acolhimento e de um plano pedagógico adequado para alunos atípicos.
A instituição de ensino da Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF) expulsou um por não atender aos requisitos do regimento e jubilou os outros dois por terem sido reprovados duas vezes. A PMDF nega as acusações.
Ao Metrópoles mães de estudantes diagnosticados como pessoas com deficiência (PCDs) disseram considerar que a escola militar adotou um modelo de ensino de exclusão. As famílias apresentaram denúncia ao Ministério Público do DF e Territórios (MPDFT) e à Defensoria Pública (DPDF).
“É um colégio que tem tudo para oferecer o ensino adequado para os estudantes típicos e atípicos, mas marginalizou os PCDs dentro da instituição. A PMDF tem conhecimento da situação, mas, infelizmente, nada foi feito. A escola está na contramão da legislação”, acrescentou.
Alunos em recuperação
De acordo com as famílias, no fim do ano passado, 58 crianças com algum tipo de transtorno ficaram de recuperação por causa da falta de suporte necessário durante os dias de aprendizado em sala de aula. Desse total, sete foram reprovadas. Pelo regulamento do colégio, a criança é retirada compulsoriamente da instituição após duas reprovações.
Sobre os jubilados, a PMDF disse que “nenhum estudante foi expulso devido às suas características individuais”. A reportagem solicitou o balanço oficial de alunos PCDs em recuperação, reprovados, jubilados e expulsos. Os números não foram fornecidos.
Segundo as mães, o colégio militar não dispõe de um plano de ensino individualizado (PEI) para garantir o aprendizado adequado de estudantes PCDs. Alunos atípicos precisam, por exemplo, de suporte para assimilar os conteúdos, indo desde a capacitação de professores, apoio de monitores, material pedagógico especializado até rotinas de ensino customizadas durante todo o ano letivo.
A acessibilidade seria oferecida apenas durante a aplicação das provas. De acordo com as mães, o estudante PCD faz o teste em um local separado, com tempo ampliado, obrigatoriamente no período vespertino e com a presença de um ledor, que é um auxiliar que lê as questões. Mas as provas não seriam devidamente adaptadas, e o profissional não teria a capacitação para a função.
A PMDF diz que, dos 1.270 estudantes matriculados, 87 possuem algum transtorno de aprendizagem ou deficiência, e que “cada um desses estudantes é acompanhado de forma personalizada, respeitando suas características individuais e necessidades específicas”.
A adaptação do ensino é um direito dos estudantes PCDs. O Estatuto da Pessoa com Deficiência estabelece a educação como direito, assegurada a inclusão em “todos os níveis e aprendizado ao longo de toda a vida”. A Política Nacional de Proteção dos Direitos da Pessoa com Transtorno do Espectro Autista (TEA) também resguarda e protege as crianças dentro de colégios públicos e privados.
Bullying
De acordo com as famílias, a escola também não adotou rotinas, projeto pedagógico e cultura de respeito à comunidade PCD. Por isso, frequentemente, as crianças atípicas que têm dificuldade de adaptação dentro da escola são alvo de preconceito e bullying. “Tudo isso acaba trazendo exclusão”, lamentou uma mãe.
A PMDF nega. “Reiteramos que a afirmação de que nossos estudantes neuroatípicos estão sendo perseguidos não condiz com a realidade. Trabalhamos continuamente para criar um ambiente inclusivo, onde todos os alunos são respeitados e valorizados”, acrescentou em nota.