A transposição de obras literárias clássicas para o cinema tem sido uma prática recorrente na indústria cinematográfica. Esse processo de adaptação permite que histórias atemporais ganhem nova vida e atinjam um público mais amplo. Nos últimos anos, diversas produções contemporâneas têm buscado inspiração na literatura clássica para fazer um filme, reinterpretando essas narrativas com uma perspectiva moderna e inovadora.
Este artigo explora dez filmes contemporâneos que, ao serem adaptados da literatura clássica, não apenas homenageiam suas fontes originais, mas também trazem novas dimensões e reflexões para os textos que moldaram a história da literatura. Vamos mergulhar nessas adaptações e descobrir como elas conseguem capturar a essência das obras originais enquanto se comunicam com a audiência atual.
10 Filmes adaptados da literatura clássica
1. As Patricinhas de Beverly Hills
“As Patricinhas de Beverly Hills” é uma comédia adolescente lançada em 1995, dirigida por Amy Heckerling. Embora ambientada no glamouroso cenário moderno de Beverly Hills, este filme é uma adaptação contemporânea da clássica obra da literatura “Emma”, de Jane Austen, publicada em 1815.
Em “As Patricinhas de Beverly Hills”, essa figura central é representada por Cher Horowitz, interpretada por Alicia Silverstone. Cher é uma adolescente rica e popular que frequenta uma escola de elite em Beverly Hills. Assim como Emma, Cher se considera uma especialista em relacionamentos e decide ajudar uma nova aluna, Tai, a se tornar popular e encontrar um namorado. No entanto, suas tentativas muitas vezes resultam em confusões cômicas e complicações inesperadas.
A adaptação de “Emma” para “As Patricinhas de Beverly Hills” é habilmente realizada, mantendo a essência dos personagens e das tramas, enquanto os transfere para um contexto moderno que ressoa com o público contemporâneo. O filme captura o espírito leve e satírico da obra de Austen, explorando temas de amor, amizade e autoconhecimento. A transição das paisagens rurais da Inglaterra para os luxuosos subúrbios de Los Angeles é feita de maneira fluida, demonstrando a atemporalidade dos temas abordados por Jane Austen.
2. O Rei Leão (1994)
“O Rei Leão”, lançado pela Disney em 1994, é um dos filmes de animação mais icônicos e amados de todos os tempos. Embora ambientado na savana africana e protagonizado por animais, sua narrativa possui uma profunda conexão com a obra literária “Hamlet”, uma das tragédias mais famosas de William Shakespeare.
“Hamlet”, escrita no início do século XVII, conta a história do Príncipe Hamlet da Dinamarca, que luta para vingar o assassinato de seu pai, o rei, cometido por seu tio Claudius, que usurpou o trono. A trama é marcada por temas de traição, vingança, moralidade e a busca pela verdade.
Em “O Rei Leão”, essas temáticas são adaptadas para a história do jovem leão Simba. Simba é o filho do rei Mufasa, um líder sábio e justo. A história começa com Mufasa governando a Pedra do Reino, mas tudo muda quando o traiçoeiro irmão de Mufasa, Scar, orquestra a morte do rei para tomar o trono. Simba, convencido por Scar de que foi responsável pela morte de seu pai, foge para o exílio.
“O Rei Leão” adapta a complexidade emocional e os conflitos morais de “Hamlet” para uma história acessível e tocante para crianças e adultos. Ao fazer isso, a Disney cria uma fábula poderosa que, embora simplificada e reinterpretada, carrega a essência da tragédia shakespeariana. Esta adaptação moderna demonstra como as grandes histórias e temas universais podem transcender as barreiras do tempo, espaço e forma, ressoando com novas gerações de maneiras inesperadas e emocionantes.
3. 10 Coisas que eu odeio em você (1999)
“10 Coisas que Eu Odeio em Você” é uma comédia romântica adolescente lançada em 1999, dirigida por Gil Junger. Este filme é uma adaptação moderna da obra da literatura “A Megera Domada” (The Taming of the Shrew), de William Shakespeare, escrita no final do século XVI.
“A Megera Domada” é uma das comédias mais conhecidas de Shakespeare e gira em torno das tentativas de Petruchio em domar a voluntariosa e teimosa Catarina (Kate), para que ela se torne uma esposa obediente. A peça explora temas de gênero, poder e conformidade social, muitas vezes de maneira controversa.
“10 Coisas que Eu Odeio em Você” transporta essa narrativa para um cenário contemporâneo, ambientado em uma escola secundária americana. No filme, Julia Stiles interpreta Kat Stratford, uma adolescente inteligente e de espírito independente, que é vista como uma “megera” moderna devido à sua personalidade forte e aversão a normas sociais. Heath Ledger interpreta Patrick Verona, o personagem inspirado em Petruchio, que é pago para namorar Kat, mas eventualmente se apaixona genuinamente por ela.
A trama se desenrola com Cameron (Joseph Gordon-Levitt), um novo aluno que se apaixona por Bianca Stratford (Larisa Oleynik), a popular e bonita irmã mais nova de Kat. No entanto, Bianca só pode namorar se Kat também namorar, de acordo com as rígidas regras impostas por seu pai. Para resolver isso, Cameron e seu amigo Michael (David Krumholtz) conspiram para pagar Patrick para sair com Kat, desencadeando uma série de eventos cômicos e emocionais.
Embora “10 Coisas que Eu Odeio em Você” seja uma comédia romântica leve, ele mantém elementos centrais da peça original de Shakespeare. Kat, como Catarina, é inicialmente resistente à ideia de romance e conformidade, mas ao longo do filme, assim como na literatura, ela e Patrick desenvolvem uma relação genuína baseada em respeito mútuo e compreensão, contrastando com a abordagem mais controversa de “domar” encontrada na peça original.
“10 Coisas que Eu Odeio em Você” é um exemplo brilhante de como uma obra clássica pode ser reinterpretada para um público moderno, mantendo a essência do material original enquanto introduz novas nuances e perspectivas. Através de performances cativantes e um roteiro inteligente, o filme continua a ser uma adaptação querida que celebra o legado de Shakespeare em um contexto contemporâneo.
4. Jogo de Intrigas (2001)
“Jogo de Intrigas” (título original: “O”), lançado em 2001 e dirigido por Tim Blake Nelson, é uma adaptação contemporânea da tragédia “Otelo” (Othello), de William Shakespeare. “Otelo”, escrita no início do século XVII, é uma das mais poderosas peças de Shakespeare, abordando temas de ciúme, traição, racismo e manipulação.
Na peça original, Otelo é um general mouro ao serviço da República de Veneza, que se casa com Desdêmona, a filha de um senador veneziano. O vilão da história, Iago, ressentido por não ter sido promovido e motivado por um ódio profundo por Otelo, trama uma série de enganos para fazer Otelo acreditar que Desdêmona o está traindo com Cassio, um tenente de Otelo. O ciúme resultante leva Otelo a cometer atos trágicos, culminando na morte de Desdêmona e, eventualmente, na sua própria destruição.
“Jogo de Intrigas” transpõe essa narrativa para um ambiente contemporâneo, situando a ação em uma escola secundária americana. Mekhi Phifer interpreta Odin James (O.J.), a estrela do time de basquete da escola, e Julia Stiles interpreta Desi, sua namorada, que é baseada em Desdêmona. O papel de Iago é reimaginado como Hugo Goulding, interpretado por Josh Hartnett, que é o filho do treinador e um colega de equipe de Odin.
Assim como Iago (na literatura), Hugo (no filme) é movido pelo ciúme e pelo ressentimento. Ele se sente negligenciado por seu pai e enciumado pelo sucesso de Odin. Para arruinar a vida de Odin, Hugo elabora um plano maligno para convencer Odin de que Desi está tendo um caso com seu amigo e companheiro de equipe, Michael Cassio (Andrew Keegan). A manipulação de Hugo desencadeia uma série de eventos trágicos que espelham os da peça original.
Em resumo, “Jogo de Intrigas” é uma adaptação eficaz de “Otelo” que traduz os elementos clássicos de tragédia e engano para um cenário contemporâneo, mantendo a essência da narrativa shakespeariana enquanto aborda temas relevantes para a audiência moderna.
5. A Mentira (2010)
“A Mentira” (título original: “Easy A”), lançado em 2010 e dirigido por Will Gluck, é uma comédia adolescente que faz uma referência explícita e moderna à obra da literatura “A Letra Escarlate” (The Scarlet Letter), escrita por Nathaniel Hawthorne em 1850, e embora o filme “A Mentira” não seja uma adaptação direta da obra clássica, ela utiliza a narrativa e os temas centrais de “A Letra Escarlate” para explorar questões contemporâneas de reputação, moralidade e identidade.
“A Letra Escarlate” é ambientado na Nova Inglaterra puritana do século XVII e narra a história de Hester Prynne, uma mulher que dá à luz uma filha ilegítima e é condenada a usar uma letra “A” escarlate (de “adúltera”) em seu peito como símbolo de sua vergonha e pecado. A obra explora temas de pecado, culpa, hipocrisia e julgamento social.
Em “A Mentira”, Emma Stone interpreta Olive Penderghast, uma estudante do ensino médio que se vê no centro de rumores sobre sua vida sexual. A trama começa quando Olive inventa uma mentira sobre perder a virgindade para evitar uma viagem com a amiga. A mentira rapidamente se espalha, e Olive decide abraçar sua nova reputação, costurando uma letra “A” vermelha em suas roupas como uma referência direta a “A Letra Escarlate”.
Assim como Hester Prynne (na literatura), Olive (no filme) enfrenta julgamento e ostracismo por parte de seus colegas e da comunidade escolar. No entanto, ao contrário de Hester, Olive usa a situação para desafiar e expor a hipocrisia e os padrões duplos presentes em sua escola. Ela mantém seu senso de humor e inteligência ao lidar com as consequências de sua mentira, enquanto tenta recuperar sua reputação e revelar a verdade.
“A Mentira” utiliza “A Letra Escarlate” como uma metáfora e uma estrutura narrativa para comentar sobre as experiências contemporâneas dos adolescentes, explorando como os temas de Hawthorne ainda são relevantes hoje. Olive, como Hester, é uma personagem forte e resiliente que desafia as normas sociais e busca justiça para si mesma. O filme equilibra humor e reflexão, oferecendo uma mensagem poderosa sobre autenticidade, resiliência e a importância de não julgar os outros com base em rumores e aparências.
6. Ela é o cara (2006)
“Ela é o Cara” (título original: “She’s the Man”), lançado em 2006 e dirigido por Andy Fickman, é uma comédia adolescente que se inspira na peça “Noite de Reis” (Twelfth Night) de William Shakespeare. Embora a ambientação e os personagens tenham sido modernizados, o filme mantém muitos dos temas e elementos centrais da obra shakespeariana, como identidade, disfarce e o caos resultante de mal-entendidos.
“Noite de Reis” é uma comédia escrita por Shakespeare no início do século XVII, que gira em torno das aventuras e desventuras de Viola, uma jovem que se disfarça de homem, assumindo o nome de Cesário, após um naufrágio. Trabalhando para o Duque Orsino, Viola se vê no meio de um complicado triângulo amoroso: Orsino ama a Condessa Olivia, que se apaixona por Cesário (Viola disfarçada), enquanto Viola, disfarçada, se apaixona por Orsino. A peça é conhecida por seu humor, confusões de identidade e comentários sobre gênero e amor.
“Ela é o Cara” transporta essa história para um ambiente moderno de ensino médio. Amanda Bynes interpreta Viola Hastings, uma adolescente que adora jogar futebol. Quando o time feminino de futebol de sua escola é desfeito, ela decide se disfarçar de seu irmão gêmeo Sebastian (James Kirk), que está temporariamente fora da cidade, para jogar no time masculino da escola rival, Illyria. Viola se transforma em “Sebastian” e entra na escola, onde acaba se apaixonando por seu colega de quarto e companheiro de equipe, Duke Orsino (Channing Tatum).
“Ela é o Cara” mantém os temas principais de “Noite de Reis”, como a confusão de identidade e a fluidez do gênero, enquanto os adapta para um público adolescente moderno. A narrativa explora questões de identidade pessoal, aceitação e a luta por igualdade, especialmente no contexto dos esportes e das expectativas de gênero.
7. O Diário de Bridgit Jones (2001)
“O Diário de Bridget Jones” (título original: “Bridget Jones’s Diary”), lançado em 2001 e dirigido por Sharon Maguire, é uma comédia romântica que adapta o romance homônimo de Helen Fielding. A obra de Fielding, por sua vez, é uma reimaginação moderna do clássico “Orgulho e Preconceito” (Pride and Prejudice), escrito por Jane Austen em 1813. Embora ambientado no século XXI, o filme “O Diário de Bridget Jones” mantém muitos dos temas e elementos narrativos centrais da literatura de Austen, como os mal-entendidos românticos, o crescimento pessoal e a crítica social.
“Orgulho e Preconceito” é centrado na personagem Elizabeth Bennet, uma jovem espirituosa e independente que vive na Inglaterra do início do século XIX. A história explora suas interações e eventual romance com o enigmático e inicialmente arrogante Sr. Darcy, enquanto ambos superam seus preconceitos e mal-entendidos. Austen tece uma crítica social astuta sobre as classes sociais e o papel das mulheres na sociedade de sua época.
Em “O Diário de Bridget Jones,” Renée Zellweger interpreta Bridget Jones, uma mulher solteira de trinta e poucos anos que trabalha em uma editora em Londres. Bridget é uma personagem moderna e imperfeita, que luta com sua autoimagem, seus relacionamentos amorosos e suas inseguranças. Ela começa a escrever um diário na esperança de melhorar sua vida e alcançar seus objetivos pessoais e profissionais.
Os paralelos com “Orgulho e Preconceito” são evidentes nos personagens e na trama de “O Diário de Bridget Jones.” Mark Darcy, interpretado por Colin Firth, é uma versão contemporânea do Sr. Darcy. Ele é um advogado bem-sucedido, inicialmente percebido por Bridget como frio e distante, mas que eventualmente revela sua natureza generosa e carinhosa. Hugh Grant interpreta Daniel Cleaver, um charmoso mas manipulador colega de trabalho de Bridget, que funciona como uma combinação dos personagens George Wickham e Charles Bingley da obra original, representando um interesse amoroso enganador.
Ao longo do filme, Bridget enfrenta uma série de mal-entendidos e embaraços enquanto navega pelo complicado mundo dos relacionamentos e da autoaceitação. Através de suas experiências, ela amadurece e aprende a valorizar a si mesma, assim como Elizabeth Bennet faz em “Orgulho e Preconceito.” A jornada de Bridget é marcada por momentos de humor e vulnerabilidade, refletindo a escrita espirituosa e irônica de Austen.
8. Meu Namorado é um Zumbi (2013)
“Meu Namorado é um Zumbi” (título original: “Warm Bodies”), lançado em 2013 e dirigido por Jonathan Levine, é uma comédia romântica com um toque de horror, baseada no romance homônimo de Isaac Marion. O filme é uma reinterpretação criativa da obra da literatura “Romeu e Julieta” de William Shakespeare, trazendo a clássica história de amor proibido para um cenário pós-apocalíptico dominado por zumbis.
“Romeu e Julieta,” escrita por Shakespeare no final do século XVI, é uma das tragédias mais conhecidas do autor. A história gira em torno de dois jovens amantes de famílias rivais, os Montéquio e os Capuleto, que se apaixonam perdidamente, mas cuja relação é condenada pelo ódio entre suas famílias. A peça explora temas de amor, conflito, destino e sacrifício.
Em “Meu Namorado é um Zumbi,” a narrativa de amor proibido é transportada para um mundo onde a humanidade está em guerra com os zumbis. Nicholas Hoult interpreta R, um zumbi que, apesar de sua condição, começa a desenvolver sentimentos e pensamentos complexos. Durante uma incursão, ele conhece Julie (Teresa Palmer), uma humana, e a salva de ser atacada por outros zumbis. À medida que R e Julie passam mais tempo juntos, R começa a recuperar sua humanidade, e uma relação improvável se desenvolve entre eles.
Os paralelos com “Romeu e Julieta” são claros. R e Julie representam Romeu e Julieta, respectivamente, enquanto o conflito entre zumbis e humanos ecoa a rivalidade entre Montéquios e Capuletos. O nome de Julie é uma referência direta a Julieta, e até mesmo o nome “R” sugere uma ligação com Romeu. Além disso, o melhor amigo de R, M (interpretado por Rob Corddry), pode ser visto como uma versão do personagem Mercúcio.
Em resumo, “Meu Namorado é um Zumbi” é uma adaptação inventiva e moderna de “Romeu e Julieta,” que mantém a essência do romance proibido e do conflito entre mundos opostos, enquanto infunde a história com elementos de horror e comédia. Através de sua premissa única e personagens cativantes, o filme oferece uma nova perspectiva sobre o poder do amor para superar barreiras aparentemente intransponíveis, honrando o legado de Shakespeare de uma maneira inovadora e emocionante.
9. Segundas Intenções (1999)
“Segundas Intenções” (título original: “Cruel Intentions”), lançado em 1999 e dirigido por Roger Kumble, é um drama adolescente baseado no romance epistolar “Les Liaisons dangereuses” (As Ligações Perigosas) escrito por Pierre Choderlos de Laclos em 1782. O filme transporta a intriga e manipulação do romance original para o ambiente contemporâneo da elite de Nova York, mantendo a essência da literatura sobre sedução, vingança e corrupção moral.
“As Ligações Perigosas” é um romance situado na aristocracia francesa do século XVIII, centrado nas maquinações de dois personagens manipuladores e hedonistas: a Marquesa de Merteuil e o Visconde de Valmont. Eles usam sua inteligência e charme para jogar com os sentimentos das pessoas ao seu redor, envolvendo-as em intrigas amorosas e jogos de poder, com consequências devastadoras.
“Segundas Intenções” segue uma narrativa semelhante, ambientada no moderno Upper East Side de Manhattan. Sarah Michelle Gellar interpreta Kathryn Merteuil, uma adolescente rica e manipuladora, enquanto Ryan Phillippe interpreta seu meio-irmão, Sebastian Valmont. Kathryn e Sebastian são os equivalentes contemporâneos da Marquesa de Merteuil e do Visconde de Valmont, respectivamente.
No filme, Kathryn desafia Sebastian a seduzir Annette Hargrove (Reese Witherspoon), uma jovem virgem que escreveu um artigo prometendo manter sua castidade até o casamento. Se Sebastian conseguir conquistar Annette, Kathryn permitirá que ele a tenha, mas se ele falhar, Kathryn ficará com o valioso carro de Sebastian. Paralelamente, Kathryn manipula outras pessoas ao seu redor, incluindo Cecile Caldwell (Selma Blair), em seus jogos cruéis de sedução e vingança.
Além das performances marcantes dos atores, “Segundas Intenções” é conhecido por seu estilo elegante, trilha sonora impactante e diálogos afiados, que capturam o espírito cínico e sofisticado do romance de Laclos. A narrativa oferece uma crítica social incisiva sobre a decadência moral e as intrigas de uma elite aparentemente intocável, demonstrando como a busca pelo poder e pelo prazer pode levar à ruína pessoal.
10. O Homem Invisível (2020)
“O Homem Invisível” (título original: “The Invisible Man”), lançado em 2020 e dirigido por Leigh Whannell, é um filme de terror psicológico que reinterpreta a clássica obra da literatura de ficção científica “O Homem Invisível” (The Invisible Man) de H.G. Wells, publicada em 1897. Embora o filme de 2020 não seja uma adaptação direta, ele se inspira fortemente nos temas e na premissa da obra original, trazendo uma abordagem contemporânea e inovadora à história de invisibilidade e terror.
A novela de H.G. Wells conta a história de Griffin, um cientista brilhante mas instável que descobre uma fórmula para se tornar invisível. Inicialmente entusiasmado com suas novas habilidades, Griffin logo percebe as desvantagens e os perigos de sua condição. À medida que seu isolamento e sua paranoia aumentam, ele se torna cada vez mais violento e amoral, utilizando sua invisibilidade para cometer crimes e aterrorizar aqueles ao seu redor.
Em “O Homem Invisível” de 2020, a narrativa é centrada em Cecilia Kass (Elisabeth Moss), uma mulher que foge de um relacionamento abusivo com Adrian Griffin (Oliver Jackson-Cohen), um cientista rico e controlador. Pouco depois de sua fuga, Adrian aparentemente comete suicídio, mas Cecilia começa a suspeitar que ele encontrou uma maneira de se tornar invisível e está usando essa habilidade para persegui-la e atormentá-la. A premissa de invisibilidade permanece, mas a história é contada do ponto de vista da vítima, explorando temas de abuso psicológico, controle e a luta pela credibilidade.
O filme de Whannell transforma a narrativa de Wells em um comentário moderno sobre abuso doméstico e a dificuldade que as vítimas enfrentam para serem acreditadas. Cecilia é constantemente desafiada em suas tentativas de provar que está sendo perseguida por um homem invisível, destacando a luta das vítimas de abuso para serem ouvidas e levadas a sério. A invisibilidade de Adrian serve como uma metáfora para o controle e a manipulação psicológica que muitas vezes não são visíveis aos olhos dos outros.
Visualmente, o filme de 2020 utiliza técnicas de suspense e terror psicológico para criar uma atmosfera de constante tensão e paranoia. A presença invisível de Adrian é sugerida através de cenas inquietantes, onde o espectador, assim como Cecilia, é levado a questionar o que é real e o que é manipulação.