Ex-presidente destaca a importância de cooperação com a China, transferência de tecnologia e industrialização como pilares para desenvolvimento brasileiro
Em uma entrevista com os jornalistas das mídias brasileiras presentes em Pequim, a ex-presidente Dilma Rousseff discutiu o papel estratégico que o Brasil pode desempenhar na Iniciativa Cinturão e Rota, também conhecida como Nova Rota da Seda, liderada pela China. O programa, que investiu mais de um trilhão de dólares em infraestrutura nos últimos 10 anos, se expandiu para além de projetos tradicionais e abrange áreas como saúde, educação, segurança, saneamento básico e transferência de tecnologia. “O Brasil precisa aproveitar todas as oportunidades que se lhe apresentam”, afirmou Rousseff, destacando a importância de uma parceria estratégica com a China.A entrevista de Rousseff foi divulgada pelo canal no YouTube do Brasil de Fato e aborda a necessidade de o Brasil se envolver de forma mais ampla nos projetos de cooperação internacional, especialmente em setores de alta tecnologia e industrialização. A ex-presidente ressaltou que a proposta chinesa vai além da infraestrutura física, como portos e rodovias. “Ela abrange, inclusive, infraestrutura digital e parques industriais, o que traz uma oportunidade única para países do Sul Global, como o Brasil”, pontuou.
Transferência de tecnologia e o fim da exclusividade
Segundo Rousseff, a Iniciativa Cinturão e Rota não exige exclusividade, permitindo que o Brasil mantenha outras parcerias internacionais, sem restrições impostas por programas ocidentais tradicionais, como os administrados pelo Banco Mundial. Ela enfatizou que a participação brasileira não se resume à exportação de commodities. “Não podemos aceitar uma divisão internacional do trabalho em que produzimos apenas commodities, enquanto outros países produzem bens manufaturados”, afirmou, alertando que esse modelo de desenvolvimento está ultrapassado.
Para Dilma, o caminho para o crescimento sustentável do Brasil passa pela reindustrialização e pela capacitação tecnológica, além de parcerias estratégicas com institutos internacionais. “Precisamos de um esforço conjunto para a transferência de tecnologia, como fizeram países como Japão e Coreia do Sul no passado”, afirmou, destacando a importância de se posicionar na vanguarda da Quarta Revolução Industrial.
O papel do Brasil na Quarta Revolução Industrial
Dilma também traçou paralelos entre o atual cenário econômico global e a necessidade de o Brasil se inserir nas cadeias de valor da Quarta Revolução Industrial. Ela mencionou a importância de o país ser mais do que consumidor de plataformas digitais e e-commerce, afirmando que o Brasil deve buscar ser um produtor de tecnologia de ponta. “Nós temos de ser capazes de usar todos os fatores da Quarta Revolução Industrial, e isso inclui a inovação tecnológica e a automação na produção”, disse.
Cooperação com a China e o papel do Banco dos BRICS
Rousseff, que atualmente preside o Novo Banco de Desenvolvimento (NDB), conhecido como o Banco dos BRICS, destacou que a instituição está comprometida com o financiamento de projetos de infraestrutura, especialmente com foco em sustentabilidade e industrialização. “O banco está desenvolvendo um projeto de biodigestores de alta capacidade, que transforma lixo orgânico em fertilizante, um exemplo de como podemos unir desenvolvimento e sustentabilidade”, explicou.
Sobre a expansão do NDB, Dilma ressaltou a entrada de novos membros, como Argélia e Bangladesh, e o compromisso do banco em financiar o setor privado com moeda local, uma estratégia para reduzir a exposição das empresas às flutuações cambiais. “Queremos garantir que o financiamento em moeda local alinhe os fluxos de receita e pagamento, evitando a volatilidade dos mercados internacionais”, afirmou.
Um olhar para o futuro
Ao finalizar a entrevista, Dilma Rousseff deixou claro que o Brasil tem potencial para se destacar no cenário internacional, desde que aproveite as oportunidades que surgem na nova ordem econômica global. Ela acredita que o país deve apostar em políticas industriais robustas, parcerias estratégicas e na capacitação tecnológica. “Temos tudo: petróleo, terras produtivas, capacidade de produção de proteínas e uma indústria que, embora enfraquecida, ainda existe. Precisamos apenas de vontade política para voltar a ser uma potência industrial”, concluiu.
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