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Cidade pobre, educação boa – qual o segredo e o futuro dos bons resultados no Ceará?

nov 1, 2024
Legenda da foto,Milena Costa se tornou professora em Pires Ferreira, onde salas são organizadas em forma de "U" - CRÉDITO,VITOR SERRANO/BBC

 

  • Author,Vitor Tavares e Vitor Serrano

Em uma casa de uma merendeira e um agricultor na zona rural de Pires Ferreira, no sertão do Ceará, nasceram seis professores.

“Meus pais diziam que educação e o conhecimento ninguém rouba”, conta Milena Costa, de 24 anos, a filha mais nova da família e professora da rede municipal.

“Agora, estamos tendo a oportunidade de melhorar de vida.”

Recém-aprovada no concurso para professor da cidade, Milena chora ao contar como, um a um, seus irmãos (quatro mulheres e um homem) foram mostrando que o caminho para mudar a realidade, mesmo em uma cidade de poucas oportunidades, passa pela educação.

A história da família Costa ilustra o papel que o ensino tem exercido na cidadezinha cearense de pouco mais de 10 mil habitantes, aos pés da Serra da Ibiapaba, perto da divisa com o Piauí.

O cartão de visitas dali — estampado em muros, placas e uniformes das crianças — é o resultado que a cidade vem registrando nos índices nacionais de educação.

Pires Ferreira recebeu nota 10 no último Índice Nacional de Educação Básica (Ideb) para os anos iniciais do ensino fundamental, a maior nota no Brasil.

O Ideb é o principal índice da educação básica do Brasil e é calculado com base em dois indicadores: a taxa de aprovação escolar; e as médias de desempenho nos exames aplicados pelo Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb), no quinto e no nono ano do ensino fundamental e terceiro ano do ensino médio.

Ao mesmo tempo, a cidade é uma das mais pobres do Ceará e até do país.

No ranking do Produto Interno Bruto (PIB) per capita, que é a soma das riquezas produzidas pelo município dividido pelo número de habitantes, é o 5477º entre 5570 municípios.

No ranking de renda média de trabalhadores formais, é o 5532º, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Os resultados expressivos da educação em Pires Ferreira, porém, fazem com que haja, entre analistas e a própria população, uma expectativa de que a situação da economia local mude no futuro próximo.

“Em algum momento, vai haver retorno”, opina Victor Hugo de Oliveira, analista de políticas públicas do Instituto de Pesquisa e Estratégia Econômica do Ceará (Ipece).

É certo que a economia de Pires Ferreira — movida pela pesca, agricultura e pequenas olarias — não vai absorver todos os estudantes que estão se formando e vão alçar voos em universidades e empresas longe dali.

Mas Oliveira argumenta que o resultado do bom desempenho da educação local pode vir de várias formas, seja com a volta de alguns profissionais qualificados ou, em última instância, com o desenvolvimento por tabela que esses filhos da terra levarão ao Estado ou ao país.

Imagem aérea da cidade

CRÉDITO,VITOR SERRANO/BBC

Legenda da foto,Aos pés da Serra de Ibiapaba, Pires Ferreira é uma cidade predominantemente rural

Mas, além de Pires Ferreira, o Ceará, de uma forma geral, tem se destacado nos rankings de educação há anos.

Qual o resultado concreto que já pode ser visto? E qual o segredo para se manter no topo?

Neste ano de eleições municipais, a BBC News Brasil visitou municípios que estão em primeiro e último lugar em rankings de indicadores sociais para investigar o que um país desigual como o Brasil pode aprender com seus extremos.

Além de Pires Ferreira, a reportagem foi à cidade pior colocada no ranking do Ideb — Manaquiri, no Amazonas (leia aqui).

 

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