- Author,Vitor Tavares e Vitor Serrano
Em uma casa de uma merendeira e um agricultor na zona rural de Pires Ferreira, no sertão do Ceará, nasceram seis professores.
“Meus pais diziam que educação e o conhecimento ninguém rouba”, conta Milena Costa, de 24 anos, a filha mais nova da família e professora da rede municipal.
“Agora, estamos tendo a oportunidade de melhorar de vida.”
Recém-aprovada no concurso para professor da cidade, Milena chora ao contar como, um a um, seus irmãos (quatro mulheres e um homem) foram mostrando que o caminho para mudar a realidade, mesmo em uma cidade de poucas oportunidades, passa pela educação.
A história da família Costa ilustra o papel que o ensino tem exercido na cidadezinha cearense de pouco mais de 10 mil habitantes, aos pés da Serra da Ibiapaba, perto da divisa com o Piauí.
O cartão de visitas dali — estampado em muros, placas e uniformes das crianças — é o resultado que a cidade vem registrando nos índices nacionais de educação.
Pires Ferreira recebeu nota 10 no último Índice Nacional de Educação Básica (Ideb) para os anos iniciais do ensino fundamental, a maior nota no Brasil.
O Ideb é o principal índice da educação básica do Brasil e é calculado com base em dois indicadores: a taxa de aprovação escolar; e as médias de desempenho nos exames aplicados pelo Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb), no quinto e no nono ano do ensino fundamental e terceiro ano do ensino médio.
Ao mesmo tempo, a cidade é uma das mais pobres do Ceará e até do país.
No ranking do Produto Interno Bruto (PIB) per capita, que é a soma das riquezas produzidas pelo município dividido pelo número de habitantes, é o 5477º entre 5570 municípios.
No ranking de renda média de trabalhadores formais, é o 5532º, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Os resultados expressivos da educação em Pires Ferreira, porém, fazem com que haja, entre analistas e a própria população, uma expectativa de que a situação da economia local mude no futuro próximo.
“Em algum momento, vai haver retorno”, opina Victor Hugo de Oliveira, analista de políticas públicas do Instituto de Pesquisa e Estratégia Econômica do Ceará (Ipece).
É certo que a economia de Pires Ferreira — movida pela pesca, agricultura e pequenas olarias — não vai absorver todos os estudantes que estão se formando e vão alçar voos em universidades e empresas longe dali.
Mas Oliveira argumenta que o resultado do bom desempenho da educação local pode vir de várias formas, seja com a volta de alguns profissionais qualificados ou, em última instância, com o desenvolvimento por tabela que esses filhos da terra levarão ao Estado ou ao país.
Mas, além de Pires Ferreira, o Ceará, de uma forma geral, tem se destacado nos rankings de educação há anos.
Qual o resultado concreto que já pode ser visto? E qual o segredo para se manter no topo?
Neste ano de eleições municipais, a BBC News Brasil visitou municípios que estão em primeiro e último lugar em rankings de indicadores sociais para investigar o que um país desigual como o Brasil pode aprender com seus extremos.
Além de Pires Ferreira, a reportagem foi à cidade pior colocada no ranking do Ideb — Manaquiri, no Amazonas (leia aqui).
Você também pode assistir à reportagem nas duas cidades em vídeo abaixo.