De médico oftalmologista a líder de seu país, Assad marcou a história da Síria com uma mistura de esperança reformista e repressão brutal
Reuters – Bashar al-Assad, presidente da Síria desde o ano 2000, é uma figura que encapsula contradições: inicialmente visto como um reformista promissor, ele se tornou sinônimo de um regime que governou com mão de ferro durante mais de duas décadas. Assad chegou ao poder após a morte de seu pai, Hafez al-Assad, preservando o domínio da minoria alauíta em um país de maioria sunita. Seu governo consolidou a aliança da Síria com o Irã e a oposição aos Estados Unidos e Israel. No entanto, o que definiu sua presidência foi a guerra civil que se seguiu ao levante popular da Primavera Árabe em 2011.
Durante o conflito, Assad foi acusado pelos Estados Unidos de usar armas químicas contra civis, o que ele nega. Em 2018, o então presidente dos EUA, Donald Trump, chegou a chamá-lo de “animal” devido a essas acusações. Apesar das pressões internacionais e do avanço de grupos rebeldes em diversos momentos, Assad conseguiu manter o controle sobre boa parte do território sírio até recentemente.
Uma ascensão inesperada
O destino de Bashar al-Assad como líder do país foi moldado por tragédias familiares. Seu pai, Hafez, preparava outro filho, Bassel, para sucedê-lo, mas a morte de Bassel em um acidente de carro em 1994 mudou os planos. Na época, Bashar vivia em Londres, onde se especializava em oftalmologia, mas foi chamado de volta à Síria e treinado para assumir o comando do país.
Ao se tornar presidente, Assad despertou expectativas de modernização. Ele liberou prisioneiros políticos, flertou com líderes ocidentais e abriu a economia para o setor privado. Sua esposa, Asma al-Assad, nascida no Reino Unido e ex-banqueira de investimentos, contribuiu para a imagem de um casal cosmopolita que poderia levar a Síria a uma era de reformas.
No entanto, o sistema político herdado de Hafez permaneceu intacto, e as promessas de mudanças rapidamente se dissiparam. Dissidentes foram presos e as reformas econômicas beneficiaram uma elite próxima ao regime, reforçando o que diplomatas americanos descreveram, em um telegrama de 2008 vazado pelo WikiLeaks, como “nepotismo parasitário e corrupção”.
Os momentos de prestígio inicial, como sua participação como convidado de honra no desfile do Dia da Bastilha em Paris, em 2008, logo deram lugar ao isolamento internacional à medida que seu governo reprimia manifestações e enfrentava acusações de crimes de guerra.
Apesar de sua habilidade em resistir a pressões externas e internas por mais de 20 anos, o futuro de Assad agora parece incerto. A queda de seu regime em 2024, após uma ofensiva liderada por rebeldes, encerra um período turbulento na história da Síria, mas levanta novas questões sobre o papel que ele desempenhará no futuro do país.