Indicado para o Supremo, o advogado Cristiano Zanin Martins derrubou, uma a uma, as acusações do ex-juiz suspeito contra o presidente Lula
Formado em Direito na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) em 1999, o indicado ao Supremo chegou ao posto de principal advogado de Lula por um elo de família. Ele tem como sócia em seu escritório a esposa, Waleska Zanin Martins, com quem tem três filhos. Waleska é filha de Roberto Teixeira, compadre de Lula e que há décadas atuava como advogado do ex-presidente.
No posto de defensor do petista, Zanin derrubou uma a uma as ações na Justiça contra ele, inclusive a mais importante delas, liderada pelo então juiz da Lava Jato, atual senador Sergio Moro (UB-PR).
Sua principal linha da defesa de Zanin, que ele chegou a apresentar em foros internacionais, foi apontar que Moro era parcial, e tinha objetivos políticos ao mirar Lula.
O advogado martelou que Lula era alvo de “lawfare”, termo que mistura as palavras lei e guerra em inglês e define o “uso estratégico do Direito para fins de deslegitimar, prejudicar ou aniquilar um inimigo” – na cruzada, Zanin lançou livro do tema, até então pouco debatido no Brasil.
Até que as vitórias chegassem, no entanto, o advogado foi alvo de críticas, diante das derrotas que o petista obteve em diversas instâncias da Justiça que levaram, em 7 de abril de 2018, o então ex-presidente a ser preso por 580 dias após condenação em segunda instância em um dos processos da Lava Jato.
Lula chegou a ter temporariamente como um dos integrantes de sua defesa o ex-presidente do Supremo e ex-procurador-geral da República Sepúlveda Pertence.
Mas a maré virou a favor de Zanin após as revelações da “Vaza Jato”, que trouxeram à tona as mensagens privadas trocadas entre Moro e os procuradores da Lava Jato, que incluíam comentários e orientações.
Meses depois, e com a atuação direta de Zanin, as condenações do ex-presidente decorrentes da operação foram anuladas, com o Supremo considerando Moro parcial em 2021, o que permitiu ao petista concorrer – e vencer – a corrida presidencial pela terceira vez em 2022 contra o então chefe do Executivo, Jair Bolsonaro.
Após o desfecho, Zanin voltou a atuar na área empresarial. Se em pareceria com o sogro Roberto Teixeira, cuidou de casos como a recuperação judicial da Varig e da falência da Transbrasil,mais recentemente atuou na revisão da leniência da J&F, holding dos irmãos Joesley e Wesley Batista, e foi contratado pelas Americanas, em meio à crise com os credores após o pedido de falência da varejista.
Mas Zanin nunca se afastou de Lula. Foi um dos coordenadores jurídicos da campanha petista ano passado e sempre esteve na bolsa de apostas para as indicações ao Supremo, onde seu nome não enfrenta resistências, de acordo com fontes ouvidas pela Reuters.
A indicação, porém, não agradou unanimemente. Alas de apoiadores de Lula na campanha do ano passado esperavam uma indicação que aumentasse a respresentatividade de negros e mulheres na principal corte do país.
“Hoje, Lula deve indicar o 165º homem branco para o STF, entre os 170 ministros desde a criação há 132 anos. O candidato não possui mestrado ou doutorado. Não sabemos suas posições sobre questões cruciais de direitos trabalhistas a direitos humanos. Que comecem a sabatina”, criticou o professor da FGV, Thiago Amparo.
Crítica da Lava Jato, a também professora da FGV Heloísa Machado também lamentou. “É absolutamente inadequada a indicação”, disse Machado. “Vamos pagar caro por essa bobagem”, escreveu ela no Twitter.
A preocupação central dos críticos é que a indicação fere o princípio da impessoalidade e só alimenta a onda de descrédito com o Supremo, um dos principais alvos da ultradireita bolsonarista.
Em janeiro, Zanin foi hostilizado ao ser xingado por um empresário no banheiro do Aeroporto de Brasília. O advogado moveu uma queixa crime contra o agressor, que também é investigado pela Polícia Civil da capital do país.
Caso tenha seu nome aprovado em sabatina pelo Senado – entre os sabatinadores estará Sergio Moro –, Zanin poderá ficar 28 anos na Corte, tendo que se aposentar compulsoriamente apenas em 2051, quando completar 75 anos.