Gabrielle Monteiro Sousa, 16 anos, está internada há cerca de dois meses. Ela precisou tirar parte do osso afetado pela bactéria da sinusite
Uma sinusite bacteriana mal curada quase fez com que a adolescente Gabrielle Monteiro Sousa, 16 anos, perdesse a visão. A mineira de Sete Lagoas usou as redes sociais para contar o caso e fazer alerta para as pessoas que negligenciam o tratamento correto.
Gabrielle relata que percebeu um inchaço no olho há cerca de três meses, enquanto se arrumava para ir à escola, mas nem ela nem a família desconfiaram que o sintoma poderia ser resultado de uma infecção bacteriana.
Com duas biópsias inconclusivas, os médicos acreditavam que um osso pudesse estar crescendo e empurrando o olho da jovem. No momento da cirurgia para cortar uma parte desse osso, no entanto, eles descobriram que o caso se tratava de uma infecção bacteriana avançada.
“A bactéria estava quase chegando no meu cérebro. Tudo isso por causa de uma sinusite mal curada”, afirma Gabrielle. A jovem contou ao Metrópoles que os médicos não souberam dizer quando a infecção ocorreu e desde quando a bactéria está alojada lá.
Os episódios de sinusite são recorrentes para Gabrielle, a mãe e a irmã, e geralmente são sem maior gravidade. Ela costuma ter secreção nasal e dor de cabeça e trata o incômodo com antitérmicos.
“Era algo comum. Quando o clima mudava, a gente já se preparava. Se dava febre, íamos ao médico e tomávamos antibiótico, mas não era algo que nos preocupava tanto”, lembra.
Mas a família nunca imaginou que a condição poderia se transformar em um problema tão grave. “Foi assustador. Os médicos disseram que, se não retirasse o excesso da bactéria, ela poderia chegar às membranas do cérebro e causar meningite. Graças a Deus descobrimos a tempo e retiramos boa parte do que estava ‘comido’. A situação estava bem feia”, conta a jovem.
Sinusite
A sinusite é a inflamação dos seios da face, localizados ao redor do nariz, maçãs do rosto e olhos. O oftalmologista Marco Túlio, do Visão Hospital de Olhos, em Brasília, explica que a região tem relação direta com a órbita, a cavidade óssea onde os olhos se localizam.
Quando não é tratada corretamente, a sinusite pode causar complicações graves, como meningite, problemas nos ossos e perda de visão.
Túlio não esteve envolvido no caso da adolescente, mas conta que, em situações como a de Gabrielle, quando o tratamento correto da infecção não é feito, a bactéria pode se disseminar para a órbita e infectar os ossos da face.
“A lâmina óssea – a divisão entre o seio etmoidal e a órbita – é tão fina que é chamada de lamina papyracea, como se fosse um papel. Quando acontece alguma inflamação ou infecção mais grave, essa barreira pode ser rompida e se disseminar para a órbita”, detalha Túlio.
O médico explica que, embora os casos de sinusite sejam comuns, as infecções do tipo celulite pós-septal são raras. “Em alguns casos, os pacientes não percebem a gravidade e acabam deixando passar o momento ideal do tratamento. Os indivíduos precisam ficar atentos a sintomas como o dela, como o inchaço persistente do olho”, pontua o médico.
Cirurgia
Gabrielle passou por uma cirurgia para retirar parte do osso afetado pela bactéria e por uma drenagem no seio da face para eliminar a secreção acumulada no local. Ela segue com o uso de antibióticos.
De acordo com o oftalmologista Marco Túlio, infecções ósseas, principalmente na face, são difíceis de tratar só com medicação porque a penetração das medicações no tecido ósseo é complicada. Por isso, em alguns casos, é preciso retirar o osso infectado.
“Esses ossos englobam estruturas nobres, como cérebro e olhos, e nós não podemos deixar uma infecção se disseminando. Por isso, para um tratamento mais efetivo, é necessário retirar o osso infeccionado”, afirma.
Enquanto está internada, a adolescente passa o tempo assistindo a séries e lê alguns livros. Os amigos mandam mensagens e alguns foram até Belo Horizonte para visitá-la. “Tem sido complicado, mas vai dar certo”, acredita.
A visão ainda não voltou à normalidade. Os médicos tentaram trocar os antibióticos venosos por opções orais, mas a jovem não respondeu bem e precisou voltar aos medicamentos anteriores.
Gabrielle terá que passar por mais uma cirurgia de drenagem para tirar o restante da secreção do seio da face e estudar a possibilidade de alta. Por enquanto, ela segue sem previsão de quando poderá voltar para casa.