Entre dezembro de 2022 e agosto de 2023, subiu de 54% para 64% a soma dos que declaram “confiar pouco” ou “não confiar” nos militares
As Forças Armadas emergiram como a única entidade cuja avaliação junto ao público sofreu uma mudança significativa, ultrapassando a margem de erro estimada para o estudo (2,2 pontos percentuais), em comparação com a pesquisa anterior. Também foram avaliados os níveis de confiança da população brasileira na Polícia Militar, nas igrejas evangélicas e católicas, no Supremo Tribunal Federal (STF), no Congresso Nacional e nos partidos políticos.
Essa redução na estima dos brasileiros em relação aos militares surge após a vinculação de elementos de natureza golpista com os quartéis. A diminuição da confiança por parte dos brasileiros nas Forças Armadas afetou quase todos os segmentos da sociedade, mas foi mais pronunciada entre aqueles que votaram em Jair Bolsonaro (PL) no segundo turno das eleições no ano anterior. Nesse grupo, a taxa de indivíduos que afirmam “confiar muito” nas Forças Armadas caiu de 61% para 40%. A proporção daqueles que expressam “não confiar” aumentou de 7% para 20% desde dezembro, enquanto os que manifestam “confiar pouco” passaram de 31% para 38%.
A percepção de que os militares perderam parte de sua influência entre os apoiadores de Bolsonaro é reforçada pela análise de outros segmentos alinhados a ele. No caso dos evangélicos, um grupo que majoritariamente endossou a tentativa de reeleição de Bolsonaro, a proporção daqueles que ‘confiam muito’ nas Forças Armadas diminuiu de 53% para 37% em oito meses. Nas regiões Norte e Centro-Oeste, onde Bolsonaro superou Lula em votos no segundo turno, esse percentual declinou de 46% para 32% no mesmo período.
Felipe Nunes, diretor da Quaest, sugere que a mudança na percepção dos bolsonaristas em relação aos militares indica “algum tipo de frustração, de alguma expectativa que havia entre essas pessoas”. “Não parece ser uma mera coincidência que uma das instituições mais sólidas e respeitadas do país venha sofrendo esse desgaste de imagem. Foram muitos escândalos envolvendo gente da mais alta patente na corporação. É como se o pós-governo Bolsonaro tivesse dragado o Exército para uma crise sem precedentes”.
A pesquisa foi conduzida de 10 a 14 de agosto, baseada em 2.029 entrevistas presenciais realizadas em 120 municípios, com indivíduos brasileiros com 16 anos de idade ou mais. A margem de erro é estimada em 2,2 pontos percentuais, com um nível de confiança de 95%.