Diplomata e sociólogo surpreendeu ao chegar ao segundo turno, já que as pesquisas não previam o resultado; candidato venceu 58,29% dos votos
Pedro Jordão São Paulo
O candidato Bernardo Arévalo, de 64 anos, venceu a eleição presidencial na Guatemala, cujo segundo turno foi realizado neste domingo (20).
Com 99,03% das urnas apuradas, Arévalo obteve 58,29% dos votos, enquanto Sandra Torres (UNE) alcançou 36,96%.
Pelo partido Movimento Semilla, ele chegou a essa fase do pleito de forma surpreendente, com 11,7% dos votos, segundo o Tribunal Supremo Eleitoral (TSE), já que as pesquisas não previram seu resultado.
Apesar de ser parlamentar desde 2020 no país, Arévalo não tem carreira tradicional na política, ao contrário de sua opositora, Sandra Torres (UNE). Ele se destacou como diplomata, tendo sido embaixador da Guatemala na Espanha (1995-1996) e vice-ministro das Relações Exteriores (1994-1995).
Além disso, também é escritor, autor de dezenas de livros e artigos sobre história, política, sociologia e diplomacia.
Filho do ex-presidente guatemalteco Juan José Arévalo, o novo presidente nasceu no Uruguai durante o exílio de seu pai. “Quero ser lembrado como quem respeitou o legado de seu pai”, declarou em comício na última sexta-feira (18).
Pesquisa apontava vitória de Arévalo
Em um levantamento da Sondagem Livre, publicado pelo jornal “Prensa Libre” na última quarta-feira (16), o sociólogo aparecia com 64,9% das intenções de votos válidos, contra 35,1% de Torres.
A hipótese de analistas de política era que grande parte do eleitorado que votou nulo no primeiro turno (17,4%) por protesto contra o sistema político do país iria migrar para Arévalo, visto como o candidato da mudança.
Sua opositora, Torres, tradicional política do país, no entanto, foi vista como a candidata da continuidade por parte da população.
A pesquisa também apontou que a quantidade de votos brancos e nulos deve permanecer alta no segundo turno.
No encerramento de sua campanha na sexta-feira, Arévalo criticou a corrupção e reforçou o discurso de que representa a mudança, pedindo que o eleitor não vote “pelo mesmo”. Diante do alto nível de votos nulo, ele também chamou os eleitores às urnas.
Supostas fraudes no primeiro turno
Apesar da identificação do eleitor com Arévalo pelo aspecto da mudança, contra um sistema corrupto, o partido dele, o Semilla, foi acusado de um esquema de fraude no primeiro turno, no qual teria forjado assinaturas para ser registrado no TSE.
O caso complicou a situação eleitoral no país, com ações do Ministério Público contra o TSE, ordens judiciais para remoção da candidatura e exigências de mais transparência por parte de opositores.
No entanto, mobilizações sociais contra os promotores do MP na Cidade da Guatemala fizeram a instituição recuar e dizer que não tinha a intenção de inviabilizar a candidatura de ninguém.
Arévalo negou categoricamente as acusações e disse que o que houve foi, na verdade, viagens de membros de seu partido por todo o país, buscando assinaturas para criar o partido e que isso teria tido um custo, mas nunca pagamento pelas assinaturas.
Principais bandeiras e posição política
Arévalo se denomina social-democrata assim como sua opositora. Ele defende que o Estado que garanta justiça social e a propriedade privada.
Seus principais temas da campanha foram o combate à corrupção e à insegurança no país. Além disso, também destacou a importância de gerar mais empregos e políticas de combate às alterações climáticas.
Para educação, defende um sistema público “radicalmente diferente”, com melhorias às estruturas físicas das escolas e aplicação de bolsas mensais para os estudantes. Já na saúde, diz pretender implementar um sistema universal.
Votos de protesto no primeiro turno
Sandra Torres fez 15,8% dos votos no primeiro turno, ficando a frente de todos as outras chapas; segundo colocado foi Arévalo, com 11,8%. Todavia, o verdadeiro “vencedor” na ocasião foi o voto nulo: 17,4%. Os dados são do TSE.
Analistas de política avaliaram para a CNN que a opção pode ser lida como um voto de protesto contra o sistema eleitoral do país, envolvido em escândalos de corrupção.
A estratégia também foi fortalecida por três políticos (Carlos Pineda, Roberto Arzú, e Jordan Rodas) que tiveram suas candidaturas suspensas no primeiro turno.
Além de questionarem a transparência do processo eleitoral, passaram a defender o voto nulo, a fim de terem mais de 50% nulos, o que obrigaria o TSE a fazer uma nova eleição.
Eles alegam que a suspensão foi feita com influência do então presidente do país para evitar que o eventual presidente quebrasse com esquemas de corrupção existentes atualmente.