- Author,Lara Lewington
- Role,Apresentadora, BBC Click TV
Nosso destino é inevitável, mas cada vez mais especialistas acreditam que a forma como nos sentimos nos últimos anos de vida talvez não seja.
Eles falam dos “períodos saudáveis” – a quantidade de anos em que temos saúde nas nossas vidas.
A expectativa de vida dos seres humanos pode ter dobrado nos últimos 150 anos, mas muitos de nós temos presenciado o declínio devastador dos nossos entes queridos à medida que eles envelhecem.
Para evitar esse destino, está surgindo uma nova indústria, que promete uma revolução da longevidade, com técnicas que, segundo eles, podem trazer vidas mais longas e saudáveis.
Os negócios neste setor estão se expandindo. Suplementos são indicados como a forma de combater nosso declínio celular e surgem todos os tipos de terapia para tentar reduzir as inflamações e o risco de doenças nos nossos corpos.
O empresário de tecnologia Bryan Johnson gasta milhões de dólares por ano tentando reduzir sua idade biológica – quantos anos seu corpo parece ter, em vez da sua idade real cronológica, de 45 anos.
Todos nós temos uma boa razão para isso. A idade é o maior fator de risco de doenças, seja câncer, diabetes tipo 2, doenças cardíacas ou demência. Por isso, se o envelhecimento como um todo pudesse ser retardado, também postergaríamos o risco de deflagração dessas doenças.
Mas, para Johnson, este é um passatempo. Na sua luxuosa casa em Venice Beach (Los Angeles), um dos quartos foi transformado em clínica. Lá, ele passa muitas horas por dia.
Ele acorda às cinco horas da manhã, come sua primeira refeição uma hora mais tarde, depois uma segunda e uma terceira e última refeição às 11 horas.
Tudo isso combinado com 54 comprimidos criteriosamente selecionados, mais um conjunto de suplementos e medicamentos aprovados – tudo planejado após a leitura de uma série de exames.
Os seus dias consistem de um torturante regime de exercícios, monitoramento e inúmeros tratamentos.
Ele me disse que está fazendo um tratamento de pele a laser que reduziu a idade da sua pele em 22 anos. É a maior redução de idade que ele conseguiu em qualquer parte do corpo.
Mas a estética é apenas uma pequena parte do processo. Ele me relembra que “a pele é o nosso maior órgão”.
Johnson foi atencioso, lógico e agradável. Saí da sua casa querendo ser (um pouco) como ele. Talvez eu já seja – afinal, eu corro 5 km por dia, tento evitar açúcar e testo aparelhos extremos de caminhada por diversão.
Meus colegas acharam a vida de Johnson infeliz, algo que claramente não é para qualquer pessoa. De fato, sua rotina parece ser extenuante, mas todas as minhas conversas seguiram abordando o estilo de vida.
“O estilo de vida é responsável por cerca de 93% da sua longevidade – apenas cerca de 7% é a genética”, afirma Eric Verdin, o principal executivo do Instituto Buck de Pesquisa do Envelhecimento.
“Segundo os dados, [se vivermos de forma saudável] eu diria que a maior parte das pessoas poderia viver até os 95 anos com boa saúde”, afirma ele. “Por isso, existem 15 a 17 anos [adicionais] de vida saudável ao alcance de todos nós.”
A grande questão que Verdin e outras pessoas estão pesquisando é o que significa um estilo de vida saudável.
O exercício físico, por exemplo, deveria ser uma caminhada diária ou um treino de alta intensidade? Quanto à alimentação saudável, o jejum é mais importante do que evitar açúcar? E ter uma boa noite de sono?
Por sinal, a obsessão pelo sono que encontrei entre as pessoas não pode ser subestimada. Conheci muitos que ajustam seu despertador não para despertar de manhã, mas para lembrá-los de ir para a cama no horário certo e poder dormir oito horas completas.
Bem, todos nós definimos nossos objetivos em níveis diferentes.
Verdin pratica o que apregoa. Seu regime consiste de “muito exercício, um pouco de jejum, bom sono, muitas conexões sociais e muito pouco álcool”.
Sua sugestão para os demais é “tentar passar pelo menos 14 das suas 24 horas sem ingerir calorias, pois isso tem profundo efeito sobre o seu metabolismo”.
Mas fica aberto o debate para definir o quanto isso é saudável para algumas mulheres.
Ganhando tempo
Acompanhar melhor os nossos corpos à medida que envelhecemos pode ajudar. Os riscos à saúde podem ser sinalizados a tempo e novos remédios podem ser usados no momento certo.
O mantra é personalize, previna e faça melhor.
Foi interessante observar que grande parte das pessoas que trabalham na ciência da longevidade usa mais de um rastreador pessoal – normalmente, um smartwatch e um anel (que, posso afirmar, é muito mais conveniente para dormir e essas pessoas são obcecadas pela prioridade do sono).
Para mim, o rastreamento da saúde foi esclarecedor. Não sou diabética, mas fiquei fascinada com as descobertas de um monitor contínuo de glicose que usei por algum tempo.
Atualmente, aumentar o nosso tempo de vida requer muito trabalho. Como disse o jornalista do Vale do Silício Danny Fortson: “O exercício é difícil, as pílulas mágicas são fáceis e é por isso que todos ficam tão animados com a pílula”.
A premissa é que o progresso no campo da longevidade irá chegar, mas de uma forma menos sensacionalista do que algumas pessoas esperam.
Especialistas indicam que pode surgir um remédio que, inicialmente, fará um ou dois anos de diferença, depois alguns anos mais na geração seguinte e assim por diante.
Mas, junto com esses progressos, virão dilemas éticos e práticos.
Uma questão fundamental é se o envelhecimento pode ser definido como uma doença. Esta definição pode simplificar a aprovação de remédios pelos órgãos reguladores, mas corre-se o risco de rotular as pessoas acima de uma certa idade como “doentes”.
Já o custo desses tratamentos (seja para o paciente ou para os sistemas públicos de saúde) pode ou não ser um problema, dependendo de qual venha a ser esse custo.
E, por fim, ter uma vida mais saudável provavelmente irá trazer mais alguns anos de existência, de forma que podemos precisar trabalhar por mais tempo.
Na minha jornada para aprender sobre a longevidade, minhas expectativas mudaram completamente.
Eu havia visto as manchetes sensacionalistas, sugerindo bilionários da tecnologia relaxando nos seus iates, discutindo como eles imaginavam salvar o mundo, viajar para o espaço ou “curar” o envelhecimento.
Mas a realidade que encontrei é diferente. Os ricos vêm doando dinheiro para as pesquisas médicas há anos. Esta é apenas uma nova geração de pessoas ricas e uma possível especialidade nova para a medicina. E, o mais interessante, ela afeta a todos nós.
Voltei para casa mais determinada do que nunca a viver da forma mais saudável possível – dormir melhor, não inventar desculpas para não fazer exercício, comer bem e valorizar as conexões sociais (sim, este ponto está na receita para a longevidade).
Com isso e um pouco de sorte, talvez eu consiga ganhar tempo para poder aproveitar futuras descobertas científicas.