Uso de tecnologias combinadas a instrumentos não estruturados estimula crianças, desperta a curiosidade e faz delas aprendizes de verdade
Basta um toque na tela do celular, uma combinação de palavras no Google ou no Tik Tok ou mesmo uma pergunta feita em alto e bom som para a Alexa e lá vem a resposta pronta. E para criar um texto? Aí é só inserir as informações que o Chat GPT faz o restante. O “conhecimento” parece já vir pronto e embalado para consumo. É neste cenário onde a necessidade do ensino formal, muitas vezes, é questionada por pessoas leigas em metodologias de ensino. O uso de ferramentas tecnológicas e práticas cotidianas combinadas pode ajudar estudantes a dar um salto naquilo que as escolas mais inovadoras sabem fazer com os alunos. É quando o aluno deixa de apenas “estudar” e aprende a aprender de forma a se apropriar do conhecimento e ampliar os horizontes.
Tal “virada de chave” ou salto no aprendizado, no entanto, é resultado da combinação de fatores e do uso da neurociência da aprendizagem, segundo uma das mais conceituadas autoridades no assunto no Distrito Federal, a pedagoga e pesquisadora Denise De Felice. Diretora da ONE School, escola bilíngue de educação infantil e ensino fundamental da Casa Thomas Jefferson, Denise De Felice lembra que tecnologia e imaginação precisam andar juntas e cita o exemplo do uso de brinquedos não estruturados, como galhos de árvores e troncos, que podem estimular a criatividade. Isso, em um contexto pedagógico no qual a tecnologia entra como suporte para fazer a diferença.
Planejamento faz a diferença
Dar aos alunos a oportunidade de desenvolver conhecimentos a partir de projetos ou desafios que exijam habilidades úteis na vida real, no entanto, exige muito planejamento e preparação por parte da escola e da equipe pedagógica, segundo Denise. Ela cita como exemplo o PBL, aprendizagem baseada em projetos (em inglês, Project-Based Learning), uma metodologia ativa, na qual o aluno passa a ser protagonista na construção do próprio conhecimento. Dessa forma o professor pode usar uma dúvida ou questionamento de um estudante para trabalhar um conteúdo já previsto no currículo.
Segundo Denise, a metodologia vai partir da curiosidade do estudante, que assume o protagonismo em sala e torna-se um referencial positivo para colegas que são levados a apresentar as próprias dúvidas e ajudar a construir o conteúdo. Outro componente assume papel importante na construção deste conhecimento: a criatividade lúdica. Como a brincadeira é uma atividade prazerosa, combinar metodologias de ensino, tecnologia e diversão é como colocar o estudante em um novo universo. O conteúdo forte e essencial não é deixado de lado, mas absorvido sob uma perspectiva muito mais eficaz e duradoura. “O cérebro é um órgão que adora aprender brincando”, garante Denise.
A pedagoga e neurocientista lembra que as escolas que apostam nessa combinação como ferramenta de ensino conseguem os melhores resultados para a criança e para a família, sobretudo, quando essa aula acontece em ambientes amigáveis, como aulas ao ar livre junto à natureza. “Quando a gente vem para um sistema de educação em que o brincar é a chave fundamental para o aluno aprender, a maneira de trabalhar o conteúdo muda, e isso não quer dizer que não é uma escola com conteúdo forte. Aliar tudo isso é fantástico”, garante Denise.